Mestrado Profissional em Teologia Prática

“A Inteligência Artificial provocará uma revolução nas redes sociais e de trabalho, muito maior do que foi a internet na década de 1990”, observou a Profa. Dra. Chyara Sales Pereira, Chefe do Departamento de Relações Internacionais e Coordenadora do Colegiado do Curso no Campus Coração Eucarístico. Inteligência artificial: o começo e o fim de um dogma foi o tema escolhido para a Aula Inaugural do Curso, realizada na manhã desta quarta-feira, 13 de março, no Teatro São João Paulo II. “Não é uma aula que encerra o objeto, é uma aula com o objetivo de despertar questões: sobre o que é a Inteligência Artificial; se está tendo ou não um hackeamento do ser humano; como isso impacta diretamente a nossa vida, para além do mercado de trabalho; será que, de fato, é o fim da criatividade e da capacidade de aprendizagem; o que criar, como criar e quais seriam os resultados surpreendentes ou assustadores”, listou.

A aula foi ministrada por Jacques Fux, graduado em Matemática, mestre em Ciência da Computação, doutor em Literatura Comparada e pós-doutor em Teoria Literária. O docente destacou que, embora seja tratado como uma grande novidade, Inteligência Artificial é um assunto antigo. A expressão foi cunhada em 1956, por John McCarthy, professor da Stanford University, e é o “estudo de como fazer os computadores realizarem coisas que, no momento, as pessoas fazem melhor”. Inicialmente, a busca era por sistemas, máquinas e robôs que fizessem coisas automaticamente. Hoje, há a ideia de uma inteligência autônoma, que pense por si.

Mas, bem antes disso, ideias não-humanas já influenciavam a vida em sociedade, assim como acontece atualmente. Em 700 a.C., por exemplo, havia a figura de Talos, um gigante de bronze construído por Hefesto, deus grego da invenção, do fogo e dos metais, cuja missão era proteger a ilha de Creta dos invasores, que Fux relacionou à Cúpula de Ferro em Israel, lançador de mísseis móvel utilizado como estratégia de guerra. Já em 590 a.C. havia a figura de Pandora, mulher artificial que Hefesto construiu e Zeus atribuiu à missão de se infiltrar no mundo humano e libertar seu pote de misérias e segredos, que o professor associou ao WikiLeaks, organização que divulga na internet documentos confidenciais obtidos de empresas e agências governamentais do mundo todo. “Em 384 a.C. Aristóteles conjecturou a possibilidade de substituir as tarefas mecânicas, como varrer, por um dispositivo. Atualmente, existe o aspirador robô, que nada mais é do que isso”, exemplificou, para ilustrar a ideia de que a inteligência automatizada substituindo o trabalho humano existe desde sempre.

De acordo com o professor, a discussão atual é sobre dois dogmas: a capacidade dessa tecnologia ter consciência e criatividade. “Até o momento, estudamos as Machine Learnings, as máquinas de aprendizado. Mas, em algum momento esses algoritmos vão se tornar mais inteligentes que os humanos?”, questionou. “Há pesquisas que mostram que essa consciência pode emergir em algum momento e a gente não saberá. Também há pesquisas que mostram que isso ainda está muito longe de acontecer”, ponderou.

O professor provocou os estudantes presentes com uma polêmica: em uma situação hipotética dessa consciência já ter emergido, seria possível ela decidir acabar com os seres humanos? Para ele, não há possibilidade de uma revolta das máquinas contra o homem, mas há a possibilidade de a I.A. trabalhar para colocar uns contra os outros. “E isso já acontece”, alertou, citando a indústria de fake news, que agrava a polarização política, como um exemplo de como a I.A. pode ser usada não a serviço, mas contra a sociedade.

Fux lembrou do escritor argentino Jorge Luís Borges, que argumentava que a partir do momento que uma pessoa retém todas as informações e as assimila, ela perde a capacidade de pensar. “Porque pensar é abstrair. A nossa memória é fragmentada, vamos esquecendo e recriando o tempo inteiro. Se pensarmos que a internet não se esquece de nada, já que tudo que é publicado deixa um rastro de dados, os algoritmos, de fato, entendem esse processo de memória, o que é bem interessante”, refletiu. Ele lembrou, entretanto, que essa tecnologia não é perfeita e pode cometer erros ainda não explicáveis, chamados pelos programadores de “alucinações”.

Outro ponto de falha das I.A. – e que comprova que ainda que seja uma tecnologia cada vez mais desenvolvida, mas ainda não comparada à inteligência humana – é a incapacidade de interpretar contextos. “Nos Estados Unidos, alguns algoritmos são usados em processos judiciais. Em dado momento, foi percebido que essa I.A. estava condenando negros sem antecedentes criminais e liberando brancos com antecedentes. Como a I.A. é nutrida, ela é nutrida com vieses, nesse caso, um viés racista. Isso é muito perigoso”, exemplificou. 

Com tanta influência dos algoritmos em diversos setores da sociedade e da vida, o que vai ser o futuro? Segundo Fux, a resposta está na Moral Machine, experimento do Massachusetts Institute of Technology (MIT) que tem o objetivo de associar a Inteligência Artificial a valores éticos e morais por uma perspectiva humana. “Yuval Harari afirmou que, pela primeira vez na história, vamos criar uma população de completos inúteis. Participei de um estudo no qual traçamos quatro possíveis cenários para 2040. Há cenários negativos e positivos. O desfecho vai depender o que as principais big techs vão querer criar para o mundo”, concluiu. 

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